Violência doméstica cresce em Minas e expõe desafios no combate à dependência emocional

A violência doméstica contra mulheres em Minas Gerais continua a crescer de forma alarmante. Até março de 2025, foram registrados 40.042 casos no estado, segundo dados oficiais. Em âmbito nacional, a Central de Atendimento à Mulher (Ligue 180) recebeu 86 mil denúncias até julho deste ano, reforçando a gravidade do cenário. Em nível estadual, as denúncias aumentaram quase 14% em 2024, com mulheres pretas e pardas sendo as principais vítimas, enquanto companheiros e ex-companheiros figuram como os principais agressores.

O Brasil, infelizmente, mantém uma posição de destaque negativo no ranking mundial da violência de gênero. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024, divulgado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o país registrou 1.492 feminicídios no último ano, consolidando-se como um dos líderes globais em violência extrema contra mulheres.

“Para combater essa realidade, iniciativas como o Agosto Lilás, campanha dedicada à conscientização e ao enfrentamento da violência contra a mulher, são essenciais”, destaca a psicóloga Mayrla Pinheiro, da Hapvida.

Dependência emocional: um obstáculo invisível no ciclo de violência

Embora a denúncia seja uma ferramenta crucial para romper o ciclo de violência, muitas mulheres enfrentam um obstáculo invisível e poderoso: a dependência emocional. Segundo Mayrla Pinheiro, esse padrão comportamental dificulta que as vítimas reconheçam e rompam relações abusivas. “A dependência emocional é caracterizada por uma necessidade excessiva e constante de aprovação, afeto e presença do outro para sentir segurança e autoestima”, explica.

A psicóloga alerta para sinais que podem indicar a presença de violência no relacionamento, como sentimentos constantes de medo ou insegurança, controle excessivo por parte do parceiro, desvalorização e críticas frequentes, isolamento social, manipulações emocionais e episódios de agressão verbal, física ou psicológica. “É importante lembrar que qualquer forma de desrespeito, medo ou sofrimento não é normal nem aceitável”, reforça.

Caminhos para a superação

Superar a dependência emocional é um processo que demanda coragem, paciência e apoio. Mayrla Pinheiro aponta alguns caminhos fundamentais: “Buscar ajuda profissional, como psicoterapia, é essencial para compreender as raízes desse padrão e desenvolver autonomia emocional. Além disso, fortalecer a autoestima, ampliar a rede de apoio social, aprender a estabelecer limites e educar-se sobre relacionamentos saudáveis são passos importantes para romper com comportamentos abusivos.”

A  especialista pontua que a conscientização e o enfrentamento da violência contra a mulher passam, portanto, por um esforço coletivo que envolve políticas públicas, campanhas educativas e o fortalecimento de redes de apoio. A luta por equidade de gênero e respeito aos direitos humanos é um caminho indispensável para que histórias de sofrimento sejam transformadas em trajetórias de superação e autonomia.

Síndicos e moradores têm papel ativo na proteção das vítimas

A violência doméstica não se limita ao ambiente privado. Elevadores, halls e garagens de condomínios têm se tornado palco de agressões brutais, muitas vezes registradas por câmeras de segurança e expostas em redes sociais e telejornais. Casos recentes chocaram o país: mulheres espancadas por companheiros dentro de elevadores, sem chance de fuga ou socorro imediato.

Segundo pesquisa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mais de 21 milhões de brasileiras sofreram algum tipo de violência nos últimos 12 meses — o maior índice já registrado. Em 91,8% dos casos, a agressão ocorreu na presença de terceiros. “Isso reforça a importância da atuação de quem vive e trabalha nos condomínios”, afirma Marcela Nery, diretora da área das Administradoras de Condomínio da CMI/Secovi-MG (Câmara do Mercado Imobiliário e Sindicato da Habitação de Minas Gerais).

Em Minas Gerais, a Lei Estadual nº 23.643/2020 obrigava síndicos e administradores de condomínios residenciais a comunicar às autoridades competentes, em até 24 horas, qualquer ocorrência ou indício de violência doméstica e familiar de que tivessem conhecimento. A norma, no entanto, teve vigência limitada ao período do estado de calamidade pública da pandemia de Covid-19.

Para tornar essa obrigação permanente, tramita na Assembleia Legislativa de Minas Gerais o Projeto de Lei nº 344/2023, que propõe a retirada do artigo que limitava a validade da norma. O projeto está em análise pelas comissões de Justiça e Segurança Pública.

Mesmo sem uma lei estadual atualmente em vigor, síndicos têm responsabilidade diante de situações de violência doméstica. Ignorar ou se omitir pode configurar crime de omissão de socorro, previsto no artigo 135 do Código Penal, quando há possibilidade de ajudar sem risco pessoal. Comunicar às autoridades competentes é uma atitude que protege vidas, fortalece a segurança no condomínio e demonstra compromisso com o bem-estar coletivo.

Segundo Marcela Nery, “o síndico não pode se omitir; mesmo que não presencie diretamente o ato, ele deve levar adiante qualquer informação consistente recebida de moradores ou funcionários, pois a denúncia é uma ferramenta de proteção e responsabilidade social”. Ela reforça que os condôminos também têm papel ativo: “devem comunicar ao síndico qualquer situação suspeita ou presenciada”.

De acordo com ela, a atuação responsável dos síndicos e dos moradores é essencial para garantir ambientes seguros e acolhedores para todos. “Nossa entidade reforça o compromisso do setor condominial com a proteção da vida e o cumprimento da legislação”, destaca a diretora da CMI/Secovi-MG.

Canais oficiais de denúncia:

* 180 – Central de Atendimento à Mulher (gratuito e confidencial, 24 horas por dia).

* 181 – Denúncia anônima.

* 190 – Polícia Militar (para casos urgentes)

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