Cartas originais de Fernando Sabino e Mário de Andrade são expostas pela primeira vez em BH
Em comemoração ao centenário de Fernando Sabino, Belo Horizonte recebe uma exposição inédita, com as cartas originais trocadas entre o escritor mineiro e o poeta Mário de Andrade (1893-1945). Restauradas pelo Instituto Fernando Sabino, as correspondências estão sendo exibidas, pela primeira vez, na mostra “Encontro marcado com Fernando Sabino”, com apoio do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG). A exposição faz parte das celebrações da Semana do MP, e fica aberta à visitação até 31 de outubro no pilotis da Procuradoria-Geral de Justiça (av. Álvares Cabral, 1.690, Santo Agostinho), das 9h às 18h.
As cartas, guardadas por décadas pela família de Sabino, são mais que registros de uma troca de ideias entre dois dos maiores nomes da literatura brasileira. Elas documentam o início de uma amizade que começou em 1942, quando Mário de Andrade, ao ler o primeiro livro de Sabino, “Os grilos não cantam mais”, decidiu escrever ao jovem autor. No início, o foco era em questões literárias e artísticas, mas, com o tempo, as correspondências evoluíram para discussões pessoais. Esse diálogo se manteve até a morte de Andrade, em 1945, e revela, além da amizade, os caminhos que ajudaram a moldar a obra de Sabino.
Embora a troca de cartas tenha sido publicada no livro “Cartas a um jovem escritor e suas respostas”, os documentos originais nunca haviam sido exibidos. Bernardo Sabino, filho do escritor e presidente do Instituto Fernando Sabino, ressalta o valor histórico desses documentos, guardados em malas desde a morte do pai em 2004 e recém encontrados pela família. “Exibir essas cartas é como abrir uma janela para um momento crucial da história da literatura brasileira. A correspondência entre meu pai e Mário de Andrade revela o nascimento de uma amizade e o intercâmbio de ideias que ajudaram a moldar o escritor que ele se tornaria. Trazer esses documentos ao público, restaurados, é garantir que essa história continue a ser contada”, afirma.
Para Polianna Dias, museóloga à frente da restauração das cartas, a correspondência de Mário de Andrade para Fernando Sabino, embora já publicada, ganha uma nova dimensão com a exibição dos originais. “A materialidade dessas cartas torna o processo de tratamento e curadoria mais vívido e imersivo, aprofundando a conexão com as trocas intelectuais entre esses dois grandes escritores”, avalia a especialista. A descoberta se torna ainda mais simbólica com 2024 sendo instituído como o Ano Nacional Fernando Sabino, pela Lei nº 14.794, sancionada em janeiro.
Bernardo Sabino também destaca a importância do apoio do MPMG para a realização do projeto: “O apoio do Ministério Público foi fundamental para que essa exposição aconteça, reafirmando o compromisso com a preservação e valorização do nosso patrimônio cultural”. A homenagem a Fernando Sabino está inserida nas celebrações do Ministério Público em honra à República Italiana e à comunidade ítalo-mineira. Nascido em Belo Horizonte em 12 de outubro de 1923, Sabino era neto de Nicola Savino e Angela Appratto, italianos que vieram para o Brasil por volta de 1880 e se estabeleceram em Leopoldina, na Zona da Mata mineira. A exposição também explora essa história, incluindo a origem do sobrenome da família, e ilustra a conexão histórica com a comunidade ítalo-mineira.
O procurador-geral de Justiça de Minas Gerais, Jarbas Soares Júnior, destaca a importância da troca de correspondências entre Fernando Sabino e Mário de Andrade como um marco na formação de um dos maiores escritores de Minas Gerais. “O MPMG fica muito honrado de que as cartas originais estarão expostas pela primeira vez ao público em nossa sede e em um evento tão significativo quanto a Semana do MP. Temos um encontro marcado com essa história maravilhosa”, afirma.
A exposição apresenta paineis com informações biográficas, fotografias e a produção literária de Fernando Sabino. Os visitantes terão a oportunidade de ver de perto os telegramas originais, cujas páginas desgastadas pelo tempo carregam a caligrafia e as reflexões dos escritores. O diálogo entre Sabino e Mário de Andrade transcende simples conselhos literários; Mário via o jovem mineiro como alguém com um futuro promissor, reconhecendo sua habilidade com a língua e a representação da cultura brasileira, como destaca um trecho da primeira carta: “Saio do seu livro com a convicção de que você é um escritor, é um artista”.
Posteriormente, o acervo será doado para a Casa Mário de Andrade, em São Paulo, antiga residência de Mário de Andrade e centro de importantes encontros literários do modernismo brasileiro, em um compromisso firmado entre Bernardo Sabino e a secretária de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo, Marilia Marton, para preservar a história literária do país. “A doação desse acervo garante que a memória dessa correspondência entre meu pai e Mário de Andrade seja preservada de forma permanente. Ao integrar essas cartas à Casa Mário de Andrade, asseguramos que futuros estudiosos e amantes da literatura tenham acesso a um dos diálogos mais importantes da história literária do país,” afirma Bernardo Sabino.