Levantamento aponta 33 milhões sem atendimento básico do SUS
São Paulo, SP 17/12/2021 – Está claro que a saúde primária não tem sido prioridade nos últimos anos. Esse levantamento é importante para chamar a atenção para o problema
Nos últimos três anos, 1,6 bilhão de procedimentos ambulatoriais deixaram de ser realizados no Brasil
É como se toda população das sete maiores cidades brasileiras (São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Salvador, Fortaleza, Belo Horizonte e Manaus) deixasse de receber atendimento de saúde básico durante um ano.
“Está claro que a saúde primária não tem sido prioridade nos últimos anos. Esse levantamento é importante para chamar a atenção para o problema, pois ele ainda vai se agravar muito. A crise econômica pela qual o Brasil está passando, com alta de desemprego e redução de renda da população, vai gerar sobrecarga ainda maior ao sistema de saúde pública. Além disso, há uma demanda represada, pois muita gente deixou de se tratar por mais de 1 ano e meio, o que leva ao agravamento de doenças, especialmente de pacientes crônicos”, destaca Tin Hung Ho, diretor médico do dr.consulta, que desenvolveu o estudo a partir de dados do DATASUS.
A situação se agravou em 2020 quando os esforços foram redirecionados aos casos de Covid-19 e a população deixou de procurar os postos de saúde e hospitais com receio de contaminação. Com isso, no ano passado foram feitos apenas 54% dos atendimentos que poderiam ser realizados. Das 33 milhões de pessoas que ficaram sem atendimento nos últimos três anos, 13 milhões dos casos ocorreram em 2020. Dos 1,6 bilhão de procedimentos ambulatoriais não realizados entre 2018 e 2020, 689 milhões se concentraram no primeiro ano da pandemia.
De maneira complementar, o estudo levantou a quantidade total de recursos (deflacionados) despendidos para procedimentos ambulatoriais (baixa, média e alta complexidade) ao longo dos últimos anos. Ao comparar 2008 com 2020, identificou-se uma queda real de 20% (cerca de R$ 4,9 bilhões). No entanto, a análise da série histórica mostrou que as reduções não foram lineares ao longo do período.
Em 2015 houve uma queda de 7,5% em relação a 2014. O ano de 2016, em comparação com 2015, registrou retração de 4,3%. Já os anos seguintes tiveram aumentos, mas insuficientes para recuperar as reduções anteriores. De 2016 para 2017, subiu 1,6%; de 2017 para 2018, 2,3%; e de 2018 para 2019, 2,3%. Em 2020, quando comparado com 2019, foi registrada a queda mais expressiva de cerca de 19,2% nos gastos. Presume-se que a redução se deva a um redirecionamento de recursos para o combate à pandemia.
“A atenção primária é essencial para prevenir doenças e tratá-las antes que se agravem ou se tornem crônicas. A redução do acesso ao atendimento básico, além de ser danosa para o cidadão que precisa e merece ser atendido, também implica, lá na frente, em mais gastos com média e alta complexidade”, ressalta Tin.
Ao expandir a análise para alguns municípios, observou-se que Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo deixaram de atender em torno de 1,2 milhão, 500 mil e 295 mil pessoas, respectivamente. Quantificando o número de procedimentos ambulatoriais, deixaram de ser realizados 63 milhões, 30 milhões e 17 milhões, seguindo a mesma ordem de cidades.
Diante desse contexto de restrição à saúde básica, o acesso tende a ser mais desigual e restrito nos próximos anos. Os impactos imediatos envolvem desde o aumento na espera por atendimento e menos procedimentos ambulatoriais até o risco de ocorrer aumento dos casos crônicos devido à ausência de prevenção e atendimento primário.
Para reverter esse cenário, a tecnologia pode ser uma grande aliada porque traz maior eficiência, reduz custos e tempo de espera. Com a aplicação de algoritmos e inteligência artificial, por exemplo, é possível determinar diagnósticos em menor tempo e com maior precisão. Hospitais e clínicas particulares no Brasil e no mundo têm obtido excelentes resultados.
“Acreditamos que com a crescente conscientização da população em relação à necessidade de cuidar da saúde, a sobrecarga gerada no sistema público de saúde, e o aumento acelerado dos preços dos planos de saúde, cada vez mais a população precisará de alternativas para atendimento de qualidade, com rápida disponibilidade e evidentemente, por preços que sejam compatíveis com a realidade econômica do país”, avalia Tin.
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