A água se tornou uma commodity e vira produto financeiro em Wall Street
São Paulo – SP 13/4/2021 – O Brasil concentra 12% de todo o volume de água doce do planeta, abrigando doze bacias hidrográficas, das quais nove estão localizadas na Mata Atlântica.
A preocupação é que isso possa atrair a especulação de financistas que passariam a negociar água sem considerá-la como um direito fundamental da humanidade.
A contribuição da água para sobrevivência dos seres vivos é evidente, sendo considerado o recurso natural mais importante para a humanidade. “Esse mineral contribui com a regulação da temperatura corporal e, também no transporte e eliminação de substâncias tóxicas presentes no corpo humano”, salienta Vininha F. Carvalho, economista e editora da Revista Ecotour News & Negócios (www.revistaecotour.news).
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 900 milhões de pessoas não têm acesso à quantidade de água mínima para as necessidades básicas e 27% da população urbana não está ligada a redes de abastecimento. Com a perspectiva de a escassez hídrica afetar dois terços do mundo até 2050, criam-se as condições ideais para um século marcado por conflitos em torno desse recurso natural.
Em dezembro passado, o icônico sino de Wall Street soou quando a água se tornou uma commodity no mercado futuro. Ela passou a ser comercializada na bolsa de valores dos Estados Unidos desde o dia sete de dezembro. A iniciativa traz um sério risco para o fornecimento de água para populações mais pobres e precede uma prevista guerra pela água, semelhante ao que ocorre com o petróleo.
O Brasil é privilegiado com a maior reserva de água potável do mundo e vastos reservatórios de água subterrânea. Mas, segundo relatório da Plataforma Brasileira de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmicos, mais de 70 milhões de brasileiros podem enfrentar falta d’água até 2035, apesar de toda essa abundância.
Em dez anos, 60% da população mundial viverá nas metrópoles. O problema que essas grandes cidades enfrentarão é a falta de solo não cimentado para absorver as fortes chuvas causadas pelas mudanças climáticas. A pressão que as águas residuais exercem sobre a infraestrutura é cada vez mais alta. Assim como os danos, o custo é imenso. “O abastecimento de água geralmente é administrado pelos governos locais e, assim como os sistemas de esgoto ultrapassados da cidade, eles estão sobrecarregados com essa tarefa gigantesca”, relata Vininha F. Carvalho.
O Brasil concentra 12% de todo o volume de água doce do planeta, abrigando doze bacias hidrográficas, das quais nove estão localizadas na Mata Atlântica. Questões ambientais, econômicas e na gestão de recursos, entretanto, afetam a disponibilidade hídrica e o saneamento básico dependentes da manutenção dos mananciais.
O Marco Legal do Saneamento, estabelecido pela Lei nº 14.026/2020, visa atrair capital privado para o saneamento no Brasil, já que, atualmente, o setor público representa cerca de 94% das empresas de tratamento de água e esgoto do País, segundo dados do portal Senado Notícias. Estima-se que sejam necessários aportes de cerca de R$ 500 bilhões para que se atinja a universalização do sistema.
Pablo Bereciartua, ex-secretário de Infraestrutura e Política Hídrica da Argentina, percebeu a necessidade de uma abordagem diferente e decidiu desafiar as empresas a se associarem ao governo para encontrar soluções conjuntas para as questões relativas à demanda hídrica. Ele arrecadou quatro vezes mais fundos do que os inicialmente orçados com a implementação de um sistema de títulos. Com sua mentalidade inovadora, ele construiu uma ponte entre o governo e as empresas que resultou em uma nova infraestrutura e acesso à água para quatro milhões de argentinos.
“A pegada hídrica leva em conta o volume de água usado nos processos econômicos. Calcular e discutir o valor do uso racional da água, possibilitando a redução do seu consumo é investir na qualidade de vida das próximas gerações, mas jamais pode acontecer uma especulação financeira abusiva”, conclui Vininha F. Carvalho.
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