Cresce a participação de mulheres na área da saúde
Público feminino ocupa apenas 25% das posições de liderança, apesar de ser maioria no setor; pandemia evidenciou potencial feminino para liderar
A presença das mulheres na área de saúde cresce a cada década e leva a participação feminina a postos cada vez mais altos. No Brasil, as empresas ainda têm muito para avançar nesse sentido. Dados da Organização Mundial da Saúde estimam que, embora as mulheres representem 70% da força de trabalho na área da saúde no mundo, elas ocupam apenas 25% das posições de liderança. Porém, apesar das inúmeras barreiras enfrentadas diariamente, as mulheres têm conquistado seu espaço: são mais participativas e, consequentemente, mais ouvidas. O resultado disso é que, durante a pandemia de Covid-19, o mundo acompanhou o trabalho exemplar de mulheres líderes à frente do combate à crise sanitária e econômica.
No mês dedicado às mulheres, o discurso da equidade de gênero ganha peso, mas os dados ainda não acompanham. Segundo informações do índice Women in Work, divulgado nesta semana pela empresa de consultoria e auditoria PwC Brasil, o progresso conquistado em termos de igualdade de gênero no local de trabalho poderá ser afetado pela pandemia de Covid-19. A pesquisa mostra que o desemprego aumentou em 2020, e as mulheres perderam seus empregos mais rapidamente que os homens. O estudo também aponta que a pandemia ampliou a carga desigual de trabalho doméstico e cuidados não remunerados realizados pelas mulheres.
O cenário também trouxe impactos positivos. O estudo da PwC aponta ter crescido a importância que os investidores dão à luta pela igualdade de gênero nas empresas onde investem. Na avaliação de Alexandra Malagon, CEO do Grupo Keralty no Brasil, características femininas de liderança têm ajudado a encontrar o melhor equilíbrio entre todos os aspectos objetivos e subjetivos envolvidos na crise. “As mulheres tiveram muitas conquistas e os grandes passos foram dados graças aos esforços delas e às iniciativas globais; o mundo não será mais o mesmo; todos nós nos transformamos para enfrentar crises e buscar um futuro melhor”, afirma. “É importante que a mulher assuma que é diferente, sim, que não temos, nem precisamos ter, a mesma personalidade ou características dos homens. Somos únicas e devemos potencializar e aprender a lidar com as nossas vulnerabilidades. Dessa forma, enfrentaremos maiores desafios”, diz.
Hoje, o Grupo Keralty no Brasil tem aproximadamente 76% do quadro de colaboradores composto por mulheres. Quando o assunto é liderança, o bom número se mantém e 75 cargos de gestão são ocupados por elas. Para a executiva, a pandemia trouxe transformações para o setor da saúde e estar à frente da gestão do grupo propiciou muitos aprendizados. “O desafio principal agora é levar um atendimento humanizado por meio de canais digitais; além disso, cuidar da saúde mental dos nossos beneficiários, profissionais da saúde e colaboradores. É onde entra a importância do modelo Keralty, que inclui também a comunidade e esse viés social”, afirma Alexandra.
Sandra Mesquita, diretora de Operações da operadora de saúde Vitallis, concorda e ressalta que liderar exige muita sensibilidade. “A sociedade está percebendo como a mulher faz diferença nesse cenário. Está caindo por terra aquela ideia de mulher frágil e as próprias mulheres também estão entendendo que têm força e capacidade para conduzir grandes mudanças”, afirma. “Confesso que, quando entrei na equipe da Vitallis, fiquei animada em saber que a CEO era uma mulher”, complementa. O sentimento de Sandra tem embasamento estatístico.
De acordo com o Índice de Igualdade de Gênero Bloomberg (GEI) 2020, empresas administradas por uma CEO têm mais representatividade de gênero nas lideranças e elas estão entre os colaboradores 10% mais remunerados. “A pandemia nos colocou em uma situação de muitas incertezas, em que todos nós tivemos que assumir nossas vulnerabilidades. Liderar em tempos difíceis traz a oportunidade de exercitar, de fato, a colaboração, assumindo riscos e testando novas possibilidades de maneira muito rápida”, acrescenta Sandra.
Política inclusiva nas empresas
Como forma de tentar aplacar os anos de abismo entre as oportunidades para homens e mulheres, algumas empresas têm desenvolvido políticas para maior inserção feminina em seus contingentes de trabalho. Contrariando as estatísticas, a Hipolabor, indústria farmacêutica, com mais de 30 anos no mercado, mantém um número considerável de mulheres em cargos e posições de chefia nos últimos anos. Atualmente, na empresa, 56,5% de toda a equipe é formada por profissionais do sexo feminino, o que demonstra a força delas no mercado de trabalho. Superando barreiras impostas pela sociedade, elas já ocupam 51,5% dos cargos de gestão na Hipolabor.
Para acelerar o equilíbrio entre homens e mulheres, a PwC Brasil vem realizando programas, projetos e ações internas para tornar a equidade possível. Uma das iniciativas é o programa Women in Leadership (WiL) —Mulheres na liderança—, programa para acelerar a carreira de lideranças femininas na empresa. Mais da metade da força de trabalho na PwC Brasil é feminina (52%). Uma das metas da PwC é ter 30% de mulheres na alta liderança até 2025. Com o objetivo de fortalecer a equidade de gênero, a empresa assinou o termo de Compromisso aos Princípios de Empoderamento das Mulheres ou WEPs (Womens Empowerment Principles), criado pela ONU Mulheres e Pacto Global. A PwC também compõe o Conselho Orientador da Coalizão Empresarial para Equidade Racial e de Gênero, do Instituto Ethos, desde 2018.