A telemedicina e a assistência paliativa em tempos de Covid-19

Lívia Nishimura*
 
A telemedicina vem se tornando um recurso cada vez mais comum –e necessário– na prática da assistência à saúde desde o início das medidas de isolamento social. Esse cenário estabeleceu novos rumos também para as equipes de cuidados paliativos. Ainda cercada de tabus, essa área da saúde dedica-se a cuidar da qualidade de vida de pessoas com doenças crônicas incuráveis e progressivas, em estágio de fim de vida, e sua importância só tem a crescer. O contato mais próximo do profissional de saúde com o paciente e seus familiares é fundamental para os cuidados paliativos e, neste período de pandemia, a incorporação de novas tecnologias pode ser uma aliada para a continuidade do serviço.
 
A assistência paliativa para os casos em que já não existem mais recursos clínicos de cura proporciona aos pacientes e seus familiares um momento de alívio do sofrimento e ressignificação da vida. Esses cuidados entram em cena diante de diversas doenças —como câncer, Alzheimer e insuficiência cardíaca— e não se trata apenas do controle dos sintomas físicos. O acompanhamento continuado inclui todo o apoio do ponto de vista psicológico para lidar com a angústia e ansiedade, por exemplo, além da abordagem das necessidades espirituais de cada paciente e as demandas dos familiares, oferecendo uma forma mais humanizada de lidar com o problema.
 
O desconhecimento da abordagem paliativa é apontado, inclusive, pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um dos principais entraves a essa proposta. Segundo a organização, cerca de 40 milhões de pessoas no mundo requerem esse tipo de assistência, mas ela só é ofertada a 14% desse total. Um estudo da Sociedade de Clínica Oncológica Americana, nos Estados Unidos, analisou a evolução de pessoas com câncer de pulmão avançado e mostrou que aquelas que receberam cuidados paliativos, associados ao tratamento usual da doença, tiveram melhor qualidade de vida e menos sintomas depressivos do que as que receberam só a terapia convencional.
 
Pacientes com doenças que ameacem a vida e seus familiares, muitas vezes, se sentem desamparados; por isso, a paralisação ou interrupção dos cuidados paliativos, devido ao isolamento social, pode acarretar consequências negativas no processo de alívio do paciente, assim como o surgimento de novos problemas psicológicos e físicos. O cuidado ainda pode ser fornecido de maneiras criativas, que permanecem consistentes com a proposta da especialidade. Por meio do teleatendimento, seja ele por videoconferência ou telefone, é possível escutar o paciente e o cuidador, oferecendo orientações multiprofissionais tanto nos aspectos físicos quanto no componente psicossocial e espiritual do cuidado. Essa modalidade também permite envolver pacientes, familiares e cuidadores simultaneamente, o que, muitas vezes, pode ser um desafio devido à necessidade de deslocamento dessas pessoas até o local da consulta.
 
Mesmo diante da crise sanitária vivida pelo Brasil, devido à pandemia de Covid-19, os cuidados paliativos não são um luxo —como muitos pensam—, mas, sim, uma necessidade. Precisamos desmistificar esse conceito de que cuidado continuado é para pacientes que estão destinados a morrer, quando é justamente o contrário, pois sempre há o que se possa fazer pelo paciente. São esforços destinados a pessoas com alto grau de sofrimento, que podem —e devem— ser oferecidos em todos os cenários. Preparar a família, controlar os sintomas e prestar apoio psicológico e espiritual melhoram a qualidade de vida das pessoas.
 
 
* Lívia Nishimura é graduada em enfermagem com pós-graduação em saúde pública e atua como gestora do programa gratuito de cuidados paliativos Contigo da operadora de saúde Vitallis

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