Agronegócio com inovação, sustentabilidade e transformação digital

Mauricio Moraes e Fabio Pereira *


A América Latina possui papel protagonista na produção agropecuária. Atualmente, conta com cerca de 20 milhões de produtores, sendo responsável por aproximadamente 23% das exportações globais das principais commodities, como soja, milho, algodão e carnes. Somente o Brasil, de acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), em seu décimo levantamento de acompanhamento da safra de grãos, a estimativa é de atingir um recorde de 272,5 milhões de toneladas, crescimento de 6,7% ou 17 milhões de toneladas ante a última safra. Contudo, a cadeia de valor do agronegócio nessa região passa por um processo de transformação frente aos desafios ambientais, sociais e econômicos.

Durante a 3ª edição do World Agri-Tech South America Summit, que reuniu, em São Paulo, lideranças de diversos setores da cadeia agroalimentar, startups, investidores e agências governamentais, ficaram evidenciados alguns desafios que o agro enfrenta, como, por exemplo, a crescente demanda por alimentos, o que exigirá das cadeias produtivas incremento da ordem de 60% na produção de alimentos até 2050, usando proporcionalmente menos recursos naturais e com maior sustentabilidade. Porém essa demanda já acontece com mais intensidade até 2030, incluindo desafios de ordem geopolítica que têm impactado globalmente as cadeias de suprimentos.

A solução para tamanho desafio terá que ser multidisciplinar, envolvendo ao menos três pilares: inovação, sustentabilidade e transformação digital. O objetivo não é mais tornar a produção agropecuária somente mais produtiva e financeiramente rentável, mas também construir uma cadeia de valor sustentável, inclusiva e resiliente. Essa mudança não é rápida e, para acontecer de forma sólida e consistente, precisará envolver, de forma integrada, todo o ecossistema de inovação aberta do agronegócio. São necessários investimentos públicos e privados em tecnologias e soluções que permitam incremento da produção de forma sustentável, diminuindo desperdícios, garantindo a segurança alimentar e conectando toda a cadeia produtiva, bem como, acesso ao capital para investimentos e desenvolvimento das atividades agroindustriais.

Os recursos naturais disponíveis são escassos e sua utilização indevida, juntamente com o agravamento das mudanças climáticas, podem comprometer a produção de alimentos. Nesse sentido, o planejamento estratégico e o modelo de negócio das organizações devem ser pautados em ações que enderecem os temas recuperação de áreas degradadas ou desmatadas indevidamente, redução da emissão de gases poluentes e racionalização do uso da água em processos produtivos, entre outros. A busca por um manejo mais integrado –entre agricultura, pecuária e floresta, desenvolvimento de novas biotecnologias e produtos biológicos— será cada vez mais importante nesse cenário.

É fundamental considerar também o desenvolvimento social e as condições de trabalho humano. A recuperação econômica na América Latina ainda é muito lenta. Segundo pesquisa global Hopes & Fears da PwC, realizada neste ano sobre as transformações da força de trabalho, com base nas respostas de mais de 52 mil trabalhadores em 44 países, mostra que três em cada dez trabalhadores –no Brasil e no mundo– dizem temer ser substituídos pela tecnologia nos próximos três anos. Em 2019, 50% dos trabalhadores tinham esse tipo de temor. O levantamento também indicou que 35% dos trabalhadores no Brasil e 39% no mundo dizem estar preocupados em não receber do empregador treinamento suficiente em competências digitais e tecnológicas. Outro dado que chama atenção na pesquisa é que, globalmente, 40% das empresas estão fazendo upskilling, termo utilizado para requalificação das habilidades digitais, enquanto no Brasil esse número é de apenas 27%.

Nesse contexto, é necessário ter políticas abrangentes, consensuais e de longo alcance centradas nas pessoas, objetivando capacitar melhor a força de trabalho para um mundo cada vez mais digital e disruptivo, bem como gerando mais empregos e melhor renda. A superação desses desafios é crítica para atender a um consumidor cada vez mais conectado, que demanda produtos mais saudáveis, com expectativas de maior transparência e sustentabilidade na cadeia de valor agroalimentar.


* Mauricio Moraes é sócio da PwC Brasil e líder de Agribusiness; Fabio Pereira, gerente sênior da PwC Brasil e especialista em Agribusiness

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