Especialista revela avanços significativos da neurociência no tratamento para o autismo
São Paulo 10/9/2021 – É possível andar dentro do espectro através de muita intervenção e muito estímulo, mas principalmente estímulo dos pais, para que os filhos se desenvolvam.
Dr. Alysson Muotri, neurocientista brasileiro radicado nos EUA com o maior número de publicações científicas de alto impacto na sociedade, desvendou o início da busca pela reversão do Transtorno do Espectro Autista em entrevista concedida a Autism Evolve, dando esperança para as famílias que vivem o autismo.
O Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), agência reguladora americana, documentou que em 2020 a prevalência de pessoas do espectro autista aumentou consideravelmente. Segundo as pesquisas realizadas, uma em cada 54 pessoas têm TEA. Isso equivale a praticamente 1% da população mundial.
O Brasil, por não desenvolver pesquisas determinantes, utiliza os dados do CDC como base para compreender a prevalência do transtorno no país. Isso evidencia a falta de clareza, de informação e conhecimento acerca do Transtorno do Espectro Autista (TEA) para a população brasileira, e mostra como a conscientização do autismo é importante para avançar nas discussões sobre o seu possível tratamento.
A identificação dos primeiros traços do espectro autista pode ter início ainda em casa. O diagnóstico é geralmente feito na infância, por volta dos dois anos de idade, mas, com a disseminação do tema, é possível identificar alguns sinais até antes dessa idade, o que proporciona mais benefícios à evolução da criança. Por isso, pais travam batalhas diariamente para tornar essa condição pauta de políticas públicas e de avanços científicos na busca de tratamentos eficazes e acessíveis que possam potencializar o desenvolvimento de seus filhos.
Tendo em vista que o envolvimento da família é crucial para o progresso de crianças com TEA, projetos como a Autism Evolve, idealizado por Roseli Pereira, que vive nos EUA para tratar o autismo moderado de um de seus filhos com 6 anos, tem ajudado a construir uma rede de apoio para aqueles que lidam com TEA e traz luz ao tema com base em métodos científicos. “Muitas famílias não têm recursos e não sabem como ajudar seus filhos a se desenvolverem, a terem qualidade de vida e independência. Por isso, aliar-se a um projeto como o nosso proporciona momentos de troca de informações sobre o tratamento dos sintomas autísticos, que, muitas vezes, não são conhecidos pela grande maioria da população”, reforça Roseli.
De um transtorno sem cura a uma condição reversível
O autismo é uma condição que acomete o sistema nervoso central causando dificuldades de comunicação, alterações motoras, de interação social e comportamento e, até pouco tempo, era conhecido como uma condição passível apenas de tratamentos não reversíveis. Segundo o neuropediatra Dr. Ricello Lima, “as alterações se manifestam em três grandes áreas do comportamento: na interação social, na comunicação e na presença de comportamentos repetitivos”. A forma como os sintomas se manifestam em cada um são distintas e variam em seu grau de intensidade.
Segundo estudo publicado pela AMA (Associação de Amigos do Autista) em 2021, “não há cura para TEA. No entanto, intervenções psicossociais baseadas em evidências, como terapia comportamental e programas de treinamento para pais e outros cuidadores, podem reduzir as dificuldades de comunicação, desenvolver o comportamento social e trazer um impacto positivo na qualidade de vida e bem-estar da pessoa”. Em paralelo a isso, o pesquisador e neurocientista brasileiro Dr. Alysson Muotri vem dedicando suas pesquisas junto à Faculdade de Medicina da Califórnia e ao programa de Células-Tronco da UCSD, que ele dirige em San Diego, para buscar o tratamento ideal para a reversão dos sintomas autísticos.
Suas descobertas recentes, que apontam grandes avanços a respeito do tratamento para o autismo, foram pauta de uma entrevista disponível no YouTube, com Roseli Pereira, empresária, empreendedora e fundadora do projeto Autism Evolve. “O autismo é passível de reversão. Não existe polêmica, isso está provado cientificamente. O que a gente vai fazer com essa informação é outra história”, revela.
Na entrevista, Dr. Muotri esclarece diversas questões sobre o tema, explicando que a genética do autismo não é uma genética determinista e exemplifica a reversão de sintomas autísticos. “Mesmo com alteração genética, dependendo do ambiente que você coloca, se você consegue compensar com neurotransmissores e outros tipos de tratamentos farmacológicos, você faz com que aquela rede neural se comporte de uma forma neurotípica”, acrescenta.
O neurocientista ressalta ainda que tal descoberta veio para revolucionar a forma como o autismo é visto pela ciência, mas, apesar disso, o tratamento deve passar por novas etapas de pesquisa clínica até que esteja apto para ser, efetivamente, desenvolvido e considerado uma forma de “reversão” dos sintomas autísticos. Ele enfatiza que investir em estímulos e terapias com base científica ainda é a melhor alternativa.
Roseli Pereira, mãe de uma criança autista e ativista do TEA, criou o projeto Autism Evolve, no Instagram e no YouTube, para dar voz a essa condição e fomentar mais informações para os pais, utilizando como canais as redes sociais.
“É possível andar dentro do espectro através de muita intervenção e muito estímulo, mas principalmente estímulo dos pais, para que os filhos se desenvolvam e sejam autônomos, independentes e consigam se virar sozinhos ao longo do tempo. Esse é o sonho de todas mães e pais. E é também o objetivo do projeto Autism Evolve – compartilhar as melhores informações com base científica que irão trazer resultados reais para nossos filhos evoluírem”, ressalta Roseli.
Enquanto o tratamento para reversão ainda não está disponível, pais e familiares seguem na busca pelos melhores métodos de progredir no desenvolvimento da criança, por meio de redes de apoio onde compartilham experiências uns com os outros, para, assim, terem resultados na evolução diária e progressiva do autismo.
“A jornada do autismo é desafiadora para todos nós. E enquanto a ciência está trabalhando duro na busca de tratamento ideal e efetivo para os sintomas autísticos, em paralelo, a realidade de nós, pais, é que fomos promovidos e teremos que nos capacitar nessa nova profissão, que é a de ser o terapeuta e especialista dos nossos filhos. Terapia com base científica, família treinada e acompanhamento por um médico que saiba tratar autismo e suas comorbidades são os nossos pilares”, finaliza Roseli.