Práticas de ESG nas pequenas e médias empresas
Maurício Colombari *
As ESG (Environmental, social and corporate governance, ou melhores práticas ambientais, sociais e de governança, em tradução livre) já são conhecidas de gestores e empresários há um tempo. O destaque recente sobre o tema pode ser explicado por uma série de fatores ligados a cada uma das áreas que o termo abrange, como por exemplo a preocupação dos impactos das mudanças climáticas, o custo social da pandemia global e escândalos corporativos que demandam a constante revisão sobre as práticas de governança corporativa. Outros tópicos levados em consideração podem tratar do gerenciamento de cadeias de abastecimento, como a cultura da empresa impulsiona inovações e cria confiança nos profissionais e até mesmo a gestão da água utilizada pela companhia.
Esses temas se aplicam para as organizações de forma geral, mas a realidade é que a agenda está sendo liderada pelas grandes corporações, seja porque já incorporaram esses aspectos em seu propósito e estratégia ou pela pressão crescente dos investidores e provedores de capital. Notamos que as pequenas e médias empresas, em sua maioria, ainda procuram entender qual é o seu papel dentro dessa nova realidade; no entanto, fica cada vez mais evidente que essa demanda também chegará para essas empresas mais rapidamente do que se imagina.
Isso se explica pelo fato de que as firmas que têm usado boas práticas de ESG adotam uma visão mais abrangente dos impactos nas diversas áreas, sendo requeridas a considerar não somente os aspectos de suas próprias operações mas também a cadeia de suprimentos como um todo. Nesse particular, as empresas passam a considerar não somente as próprias práticas ambientais, sociais e de governança; incluem também as práticas de seus fornecedores e prestadores de serviços.
Essa tendência é que deve impulsionar as pequenas e médias empresas a considerarem os aspectos de ESG por dois ângulos importantes: os riscos e as oportunidades. A não adequação de boas práticas, além dos riscos inerentes que já estavam presentes, acrescenta o risco iminente de perda de negócios e clientes por conta dessas novas exigências. Por outro lado, representa a oportunidade de atração de uma força de trabalho mais alinhada com essa nova realidade, assim como o desenvolvimento de novos produtos e mercados.
O fato curioso é que essa realidade ainda não parece ter sido integralmente assimilada pelas empresas. A 10ª Pesquisa Global de Empresas Familiares da PwC indica que a responsabilidade social e a pegada de carbono são consideradas prioridades de negócio para apenas 15% e 16% dos participantes, respectivamente. Em contrapartida, a expansão para novos mercados e o lançamento de novos produtos são prioridade para 55% e 50% dos participantes, respectivamente. Esses resultados demonstram, de forma inequívoca, que as empresas familiares claramente não enxergam a correlação entre a adoção de boas práticas de ESG e novas oportunidades de negócio.
Fundamental ressaltar que é possível adotar boas práticas de ESG que sejam compatíveis com o porte e a complexidade dos negócios. Nesse sentido, mais de 80% dos participantes responderam que adotam algum programa de responsabilidade social e 42% se engajam em filantropia. O desafio, portanto, é a adoção de um pensamento mais integrado, que passa pela avaliação dos impactos dos assuntos de ESG nas diversas áreas envolvidas. Esse processo demandará uma discussão mais ampla com as principais partes interessadas e servirá como ponto de partida para a priorização das iniciativas e recursos.
Assim, para a maior parte das pequenas e médias empresas, o desafio será se adaptar a um novo ambiente, que, além dos desafios que o atual ambiente de negócios já impõe a essas organizações, incorporem temas de sustentabilidade que favoreçam produtos e serviços mais inteligentes, sustentáveis e ecologicamente viáveis. Dessa maneira, também estarão contribuindo para moldar o futuro de forma diferente.
* Maurício Colombari é sócio e líder de ESG da PwC Brasil