Arie Halpern: veículos autônomos, mas não independentes
30/12/2020 – Além dos Estados Unidos, China e Alemanha são os países na dianteira da corrida tecnológica dos veículos autônomos
As cidades da Califórnia devem ser as primeiras a dispor de serviço de táxi com carros autônomos. A Public Utilities Comission (CPUC), que regula os serviços públicos do Estado da Costa do Pacífico, autorizou a operação de robôtaxis. A região foi uma das primeiras a permitir testes com veículos autônomos, mas até agora não havia liberado o uso comercial. A agência reguladora vinha há anos estudando as normas para regular o serviço.
O estado é conhecido por ter uma série de regras e exigências para autorizar os experimentos com essa nova tecnologia. Os responsáveis precisam de licenças para cada tipo de teste e são obrigados a fornecer às autoridades informações como as distâncias percorridas, acidentes, frequência com que pilotos de segurança precisam assumir o controle dos carros, ente outras.
Atualmente, cerca de 60 empresas têm licença para testes usando motoristas de segurança e cinco têm autorização adicional para usar veículos totalmente autônomos nas ruas. Uma delas, a Waymo, que pertence à Alphabet (proprietária do Google), começou recentemente a oferecer viagens em carros sem motorista aos membros de seu serviço Waymo One, em Phoenix, no Arizona. Outras empresas, como Lyft, Aptiv e Motional possuem carros autônomos em circulação em Las Vegas e Nevada, e a Cruise, que pertence à General Motors, em San Francisco – praticamente todos em testes ou realizando entregas, sem transportar pessoas.
A concentração de empresas testando seus modelos em Phoenix e Las Vegas não ocorre por acaso. São cidades planas em regiões cujo clima é mais seco e estável, o que é uma vantagem. San Francisco, por exemplo, possui condições mais complexas. A maioria dos testes é realizada em áreas limitadas. Em Nova York, seis carros são testados dentro de um complexo industrial nos arredores da cidade.
Além dos Estados Unidos, China e Alemanha são os países na dianteira da corrida tecnológica dos veículos autônomos. Se os Estados Unidos têm a maior frota em circulação, quase 1,5 mil, a Alemanha está na frente no que diz respeito à regulamentação. Primeiro país a autorizar o tráfego de automóveis nível 3 (capazes de acelerar, desacelerar, ultrapassar e manobrar em incidentes ou congestionamentos sem intervenção humana) em suas vias em 2017, será também o primeiro a regulamentar os veículos de nível 4, em que o sistema assume praticamente todas as funções do condutor com segurança.
Apesar da crescente frota de carros em testes e das previsões de que antes do fim da próxima década as pessoas poderão ler ou trabalhar enquanto se deslocam, ainda há muitos hiatos a serem preenchidos. Ainda não existe uma legislação de trânsito específica e as questões legais permanecem sem resposta. A pergunta central é: de quem é a responsabilidade no caso de acidentes?
A morte de uma ciclista, atropelada por um carro autônomo do Uber, durante testes no Arizona, mesmo com um motorista de segurança, ainda suscita controvérsias. O Uber suspendeu o projeto por meses e, recentemente, o vendeu para a startup Aurora Innovation.
Há quem sustente que os carros autônomos serão mais seguros, dotados de sistemas mais avançados e capazes de seguir à risca as leis e a sinalização, além de se comunicar com outros veículos, mas não rodarão necessariamente sem a presença de um motorista. Serão similares aos aviões, que voam a maior parte do tempo no piloto automático, mas não prescindem da presença humana. Ainda há muitas questões a serem endereçadas para que a direção autônoma se estabeleça – o que mostra que as grandes questões que envolvem a tecnologia não são técnicas, mas sociais e culturais.
Website: http://www.ariehalpern.com.br/veiculos-autonomos-mas-nao-independentes/