Revitalização de calçadas pode gerar mais segurança e convivência nas cidades
Andar pelas ruas de Belo Horizonte sem se deparar com calçadas estreitas e irregulares pode parecer um cenário impossível para moradores de algumas regiões. Não por acaso, a Prefeitura de Belo Horizonte, em 2024, iniciou obras para melhorias nas calçadas do Hipercentro da capital. Até abril, as obras incluíram a implantação de mais de 16 quilômetros de sinalização horizontal (pintura no solo), limpeza das áreas e troca de mais de 1.300 placas de sinalização em uma das regiões mais movimentadas da capital mineira para garantir maior acessibilidade.
O arquiteto urbanista Alexandre Nagazawa, diretor da BLOC Arquitetura Imobiliária, destaca que a prefeitura exige que obstáculos físicos como postes e lixeiras estejam fora da faixa reservada para a instalação deles, e prevê largura mínima de calçadas.No entanto, nem sempre essa regra é cumprida em todas as regiões da cidade. “A dificuldade de recuperar áreas construídas sob outra lógica e a falta de fiscalização são razões pelas quais Belo Horizonte é, até hoje, uma cidade com calçadas de pouca acessibilidade e integração”, comenta. Ele revela que o problema é resultado de erros de planejamento que não forarm corrigidos e que para reverter esse quadro, a prioridade deve ser a valorização do pedestre.
Segundo Nagazawa, o desenvolvimento de projetos de calçadas mais modernas pode contribuir para a acessibilidade para cadeirantes, deficientes visuais e pessoas com carrinhos de bebê, além de favorecer a vivência e a integração na cidade. Um dos exemplos é o prédio Bios Boutique Residence, localizado na rua dos Aimorés, no bairro Funcionários. O projeto, assinado pela BLOC Arquitetura Imobiliária, foi aprovado pelo conselho deliberativo do patrimônio histórico para possibilitar uma maior integração com a comunidade.
Situado entre a Igreja e a Praça da Boa Viagem, com construções tombadas, o Bios exigiu um tratamento urbanístico especial. “Desenvolvemos um projeto com um design diferenciado, uma calçada e espaços mais integrados à dinâmica da rua. O objetivo foi justamente o de dar vida ao local, humanizá-lo e trazer novamente os pedestres de volta para ocupação das ruas”, explica Nagazawa.
O especialista ressalta que esse movimento de valorização do pedestre começa a ganhar força. “O investimento em maiores áreas verdes nas construções e nas calçadas, como no projeto do prédio Bios, é uma tendência que exige um planejamento paisagístico cuidadoso”, destaca. Para o arquiteto, o uso de espécies de regiões, biomas e climas muito diferentes do que será implantada, é um fator determinante e que pode aumentar significativamente o custo de manutenção e a própria sobrevivência da planta.
Parklets – A criação de ambientes de integração em espaços que seriam ocupados por carros, como os parklets, é uma iniciativa que já acontece em algumas ruas de Belo Horizonte. Nagazawa explica que os parklets são espaços com bancos, mesas e espaços de convivência construídos em vagas de carros, geralmente em frente a restaurantes, que ficam responsáveis por sua manutenção.
Com os parklets, um espaço que seria ocupado por uma pessoa passa a acomodar cerca de dez cidadãos em pé. Embora muitos serem utilizados para aumentar a área de mesa de restaurantes, o fato de não terem horário de encerramento e de serem de fácil acesso, possibilita o uso do público sem distinções sociais. “Esses espaços e as calçadas integradas como espaços públicos onde uma pessoa pode estar sem consumir são necessários”, afirma o arquiteto.
A promoção da integração nas cidades através da humanização dos espaços, seja através de parklets ou de calçadas largas e acessíveis, depende de uma ação coletiva que envolva governo, terceiro setor e cidadãos. “Ampliar a largura das calçadas, incorporar vegetação, garantir acessibilidade e promover segurança com parklets, são escolhas que a sociedade precisa fazer para construir cidades mais humanas e acolhedoras”, completa Nagazawa.