Especialista alerta para aumento dos casos de bullying em tempos de aulas on-line

Conscientização sobre o tema ganhou mais importância durante a pandemia

A pandemia fez com que vários termos —cancelamento, cyberbullying e bullying— ganhassem grandes proporções e ampliou as agressões no ambiente on-line. Nesse sentido, especialistas da área de psicologia alertam para a importância de conscientizar crianças e jovens sobre o tema, trabalhando o desenvolvimento socioemocional, para que haja a diminuição desses casos.

Uma das grandes redes de ensino do Brasil tem trabalhado as temáticas na campanha “Ofender Não é Brincadeira”, que tem o objetivo de educar e conscientizar os alunos, de modo a reforçar as relações positivas no ambiente escolar. A iniciativa, realizada desde 2016 pela rede de ensino, passou a integrar a disciplina Laboratório Inteligência de Vida (LIV), que incentiva o desenvolvimento de habilidades emocionais.

De acordo com a psicóloga Natália Oliveira, os professores buscam trabalhar a temática por meio da conscientização e da conceitualização dos termos. “A disciplina faz parte da grade curricular do Ensino Fundamental (anos iniciais e anos finais). Utilizamos recursos visuais, como vídeos, músicas e aulas dinâmicas, sugerindo algumas intervenções em casos para que os alunos possam se envolver no tema. Realizamos a primeira palestra sobre o tema, de forma a engajar toda a comunidade escolar (alunos, professores, pais e responsáveis), e o objetivo é continuar promovendo ações de conscientização”, explica Natália, que é supervisora do LIV do Coleguium Rede de Ensino, com 20 unidades educacionais em Minas Gerais (Belo Horizonte, Nova Lima, Lagoa Santa, Sete Lagoas, Conceição do Mato Dentro e Divinópolis) e uma no Pará (Carajás).

Segundo ela, os professores percebem o receio —durante as aulas on-line— de alguns alunos em abrirem as câmeras, o que pode estar relacionado ao medo de virar figurinha ou meme, sendo também trabalhado esse fator com os alunosAlém disso, alunos deixam de manifestar opiniões por medo do tão comentado “cancelamento”. “Esse receio da exclusão e de não ser acolhido por ter uma opinião diferente, principalmente durante a discussão de algum tema polêmico em sala de aula, demonstra a importância de tratarmos esse assunto na disciplina. De fato, é fundamental conscientizarmos sobre a importância de respeitar as diferentes opiniões e estimular a empatia”, revela Natália.

As atividades trabalhadas na campanha buscam trazer situações que ultrapassam os limites do respeito, a fim de identificar a tipificação para o crime e conscientizar por meio do “se colocar no lugar do outro”. Uma delas foi a proposta de uma aula, com a produção de uma carta a uma vítima fictícia de bullying, em que os alunos tiveram que demonstrar empatia à situação vivenciada pela personagem. “Os alunos se reconhecem nesse lugar e há a chamada ‘troca de chapéu’ a partir da carta de acolhimento a essa suposta vítima. Esse resultado demonstra que a conscientização ainda é uma das melhores intervenções para o cyberbullying e o bullying. Infelizmente, não conseguimos falar em extinção, mas a prevenção é fator fundamental para a diminuição dos casos de agressões tanto no ambiente virtual quanto no presencial”, declara a psicóloga.

A supervisora do LIV do Coleguium também destaca a importância de não levar a problematização para a vítima (a partir de suas características físicas ou culturais, por exemplo), mas que a responsabilidade é do agressor, que tende a projetar isso em alguém. “Há uma série de fatores para que o agressor tenha esses comportamentos. Muitas vezes, a atitude que ele tem é a partir da própria experiência de vida”, explica.

Outro tema importante abordado na campanha é a intervenção necessária diante da situação de cyberbullying ou bullying. “Muitas pessoas ainda têm essa visão de que existe o anonimato na internet, mas não é verdade. Essa descrença na Justiça é cultural. Por isso, há ainda certa resistência em denunciar aos órgãos especializados para que haja a localização desse agressor ou hater. Buscar as intervenções corretas é um lugar de direito; se houver cada vez mais denúncias, haverá menor probabilidade de que esses agressores continuem agindo”, acrescenta.

A rede de ensino também se preocupa com a questão em ambiente escolar e, por isso, intervém para que haja o acolhimento da vítima e o caso seja solucionado. Para isso, o aluno que sofreu com o cyberbullying ou bullying deve comunicar a algum membro da equipe pedagógica para que as medidas sejam tomadas. A intervenção é pensada para cada situação específica e, em alguns casos, também há o envolvimento da família. “Temos um retorno muito positivo desse trabalho e, muitas vezes, os próprios professores da disciplina são referência para os alunos. Dessa forma, conseguimos desenvolver estratégias diretivas e assertivas para cada caso, com resultados bastante efetivos”, afirma Natália Oliveira.

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